quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Essa tragédia descrita em pergaminhos

Esse destroço consignado na porta da alma

Eleva em luzes, senhor do silêncio

E acolhe o pranto dos náufragos.


Degenerando o regenerado

Descrevendo o passo do descrente

Lamentando por bocas que te obedecem

E sendo, por direito, o meu olhar atravessado.


Eu não quero saber de nada

Foda-se!

Você e sua personalidade

Seus problemas não são os meus

Eu. Sou. O meu problema.


Lua virada por toda a estrada

Minha estadia é feita de não submeter-me a hostis

O crespo e sedoso encaixe desses olhos

Ceda-me de fluidos que roubas na falta de roupas.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


À volta

A alegria de criança deu lugar à solidão de um homem.
A ilusão de nome, sonhos
Transformara-se em ferida crônica.

Até onde solidão se estende?
Quando a felicidade há de haver este dano?

Corpos que na noite são fisgados de forma tão sutil,
Tão má
Que o próprio cansaço os entrega.
Hoje:
É o dia que também caminha
Quando se para, ele segue
Quando se nasce, começa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010





Fernando Pessoa


2-8-1933




Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.

Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.


Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!


O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.