quinta-feira, 26 de janeiro de 2012



Midnight


Quando estive só, você não soube me fitar na solidão. Quando você dançava na noite de introspecção, era eu quem caminhava na madrugada densa, perdido, consumido por todo tipo de dor e abatimento.

Ao decorrer dessas noites e finais de tarde, o por do sol foi o único amigo que tive... Não entendo o motivo, a causa, o ponto exato pela sua companhia cheia de amor e depois o corte certeiro no meu pescoço. Aquilo que esguichava era sangue, meu bem. Foi um ataque quase que letal, se não me tivesse ficado também o vicio pela noite.

Corri os lugares mais estranhos da cidade, caminhei calado... Sempre com meu cigarro de filtro escuro e poucas doses de álcool. Era sempre bebida quente; era a única forma de aquecer aquela falta que me levava cada vez mais longe, dentro daquele abismo sem igual que passei a dilacerar o meu espírito entristecido.

Conheci pessoas, acordei com elas... Era sempre vazio o espaço, o motel, o apartamento daquela psicóloga, daquela prostituta... A casa daquela mulher casada, o olhar de despedida das que me amaram.

Olhei para o meu passado e vi gloria, vi um rosto apagado, um corpo deteriorado, mas que mantinha, mesmo depois de um ano, um lugar aberto um pouco acima do estômago

Foi assim que fiquei depois que você se perdeu de mim... Talvez você tenha partido por inteira, e tenha levado consigo um pedacinho de mim que não consegui resgatar.

Depois de exatos ‘um ano e quatro meses’ te encontrei numa rua deserta que eu sempre circulava pra fumar um baseado e (raramente) cheirar um pó, quando ela ‘a aflição’ aquela aflição que te ditei de trás pra frente, vinha machucar meu coração.

Foi numa noite de sexta. Caminhava eu com meu cigarro de filtro escuro, chutando pedras, um zumbi! Foi nisso que me transformei.

Reconheci seu rosto e parei quase no final daquela rua onde você atravessava e não via que levava um pedaço de mim, que acabei por descobrir que já fazia parte da poeira do passado, Algo que eu não recuperaria.

Não sei dizer exatamente ‘quando’ foi apagado da minha memória o momento em que você me reconheceu e parou, pouco mais que dez metros de onde eu tinha deixado os passos no freio... Nos olhamos. Eu, de imediato estanquei minha capacidade de raciocínio, abaixei a cabeça e caminhei até escutar meu nome.

Depois de um ano e quatro meses, você veio fazer o que? O que me leva a entender o motivo desse encontro?

Foi à pior coisa que poderia ter me acontecido. Você perguntando:

E aí, como é que você ta?

(abraçada comigo)

To bem...

O que você tem feito?

Muitas coisas...

Você sumiu. Liguei-te algumas vezes e dava sempre caixa.

É eu me desfiz daquele chip.

[o rosto dela era o mesmo de antes e a fenda estreita gritava e transbordava sofrimento...]

Bem, eu preciso ir andando. Tenho que apresentar um projeto amanhã cedo.

Ok senhor, foi bom te ver!

É, foi legal te encontrar também.

Andei e virei à esquina com o coração nas mãos.

(meu nome...)

Meu olhar. O telefone estendido e rabiscado num papel, meu corpo paralisado. E assim fiquei por quase meia hora sentado no batente daquela esquina com meu cigarro de filtro escuro, apagado.